A canção é sobre uma mulher, uma mulher real, que incorpora, por sua vez, o conceito de "vício". Dependência absoluta, e não necessariamente física, de qualquer coisa ou de alguém. O paralelismo com o mundo das drogas, desenvolvido pelo público, foi um ato espontâneo e tristemente "noticioso": eram os anos 80 e esse tema preocupava muita gente. Muita gente me escreveu para agradecer por ter feito essa música. Eles disseram que ele os ajudou a se livrar da escravidão da heroína. Fiquei incrédula, emocionada" (entrevista dada por Alice a Luca Fiorini para o blog 'Retrô' na Vanity Fair).
Independentemente de essa interpretação ser correta ou não, e de você fazer parte daqueles que veem nessa canção uma denúncia social, ou não, a canção pode ser vista como uma descrição vívida e dolorosa de uma relação de dependência. Uma dependência patológica, na qual o ego do protagonista não pode mais viver sem o objeto de sua obsessão, numa busca desesperada pelo outro visto como o único regulador dos estados do Eu. Ou seja, que sem o outro não podemos funcionar:
Sem ela, você fica sem ar.
Você nem sai para pegar o jornal.
Você só pode dizer duas palavras
A confirmação disso também vem do campo da neurociência. As relações caracterizadas por dependência patológica são quimicamente viciantes. Toda experiência emocionalmente intensa é acompanhada pela liberação de endorfinas. Nesse sentido, o vício pode ser interpretado como a busca de uma contribuição externa que o sujeito necessita para seu próprio equilíbrio e que não consegue encontrar no nível de seus recursos internos. Assim, o homem cantado por Alice pode ter encontrado um objeto de amor do qual pode depender para funcionar, do qual não pode prescindir para existir, como se fosse uma substância psicotrópica. Como em 1981 esta canção era atual porque, involuntariamente ou não, contava o drama de seus dias, ainda hoje "Per Elisa" fala do desconforto da dependência patológica do outro, em um mundo de relacionamentos cada vez mais extremos, caracterizado por um lado pelo controle total do outro, na vida cotidiana e no sexo, até o completo abandono e negligência emocional.